Se o cérebro em si já é um verdadeiro enigma a ser decifrado dia após dia pelos especialistas, a paralisia cerebral vem a ser um assunto ainda mais complexo. Trata-se de alterações neurológicas permanentes que afetam o desenvolvimento motor e cognitivo, envolvendo o movimento e a postura do corpo. A desordem motora na paralisia cerebral pode ser acompanhada por distúrbios sensoriais, perceptivos, cognitivos, de comunicação e comportamental, por epilepsia e por problemas musculoesqueléticos secundários.
Algumas pessoas com paralisia cerebral podem andar e conversar sem precisar de apoio ou ajuda, enquanto outras necessitam de suporte no dia-a-dia, seja de uma cadeira de rodas, muletas ou aparatos específicos. Em certos casos, a função intelectual permanece intacta, enquanto em outros pode aparecer déficit no intelecto. Além da epilepsia, cegueira ou surdez também podem estar presentes, o que faz com que cada caso seja bastante individual.
Quais são as causas?
Segundo a fisioterapeuta do Centro de Excelência em Recuperação Neurológica (CERNE), Pâmella Kherolym do Carmo, a paralisia pode ser causada por uma lesão cerebral durante a gestação ou no nascimento, mas também pode ocorrer por alguma lesão cerebral nos primeiros meses ou anos de vida da criança.
Dentre os fatores de risco associados à paralisia cerebral, estão:
• Nascimento prematuro;
• Baixo peso ao nascer;
• Mánutrição intra-uterina;
• Icterícia neonatal grave;
• Incompatibilidade de RH ou tipo de sangue A-B-O entre mãe e bebê;
• Mãe infectada com sarampo ou outras doenças virais no primeiro trimestre de gestação;
• Mãe ou feto infectados por bactérias que ataquem direta ou indiretamente o sistema nervoso central do bebê;
• Perda prolongada de oxigênio antes ou durante o parto;
• Escassez de fatores de crescimento durante a vida intra-uterina.
• Tipos de paralisia cerebral
• A especialista ressalta que a paralisia cerebral pode ser classificada como:
• Espástica (caracterizada pela presença de tônus muscular elevado);
• Discinética (caracterizada por movimentos atípicos mais evidentes, quando o paciente produz movimentos e posturas atípicos);
• Atáxica (caracterizada por um distúrbio da coordenação dos movimentos, ocasionada por uma disfunção no cerebelo).
Pessoas com paralisia cerebral, assim como qualquer outra condição de saúde, necessitam de uma rede de cuidados. Segundo a especialista, quanto menor o tempo para iniciar a estimulação e tratamento, maiores serão as chances de aproveitamento da plasticidade cerebral e menores os atrasos do desenvolvimento.
Tratamento
Os sinais e sintomas da paralisia cerebral podem se tornar mais aparentes com o tempo, portanto, o diagnóstico geralmente acontece alguns meses após o nascimento, com ajuda de avaliação clínica do médico pediatra, neurologista ou neuropediatra, além de exames complementares como tomografia do cérebro e eletroencefalograma, exames de sangue e testes específicos de audição, visão, reflexos, inteligência e coordenação motora.
No que diz respeito ao tratamento, atualmente existem vários, como a fisioterapia neurofuncional; o Método Bobath, em que o paciente aprende a sensação do movimento; o método Cuevas Medek Exercises, baseado em exercícios; e o método Pediasuit, na abordagem holística. O uso de cada um deles depende da avaliação de um profissional.
Prevenção
A paralisia cerebral não pode ser evitada, mas é possível reduzir os riscos de desenvolvê-la ao considerar alguns fatores importantes antes, no início da gravidez ou até mesmo nos primeiros anos de vida da criança, como:
Manter em dia o cronograma de vacinação da mãe e do bebê;
Cuidar da alimentação e manter hábitos saudáveis;
Manter a rotina dos exames pre-natais;
Estar atento ao bebê ou criança enquanto brinca, evitando acidentes que possam lesionar estruturas cerebrais;
Evitar consumo de drogas (álcool, tabaco, substâncias lícitas ou ilícitas) durante a gestação.