Entre as proteínas associadas ao risco de demência, a beta amilóide (Aβ) e a tau são as mais conhecidas — mas estão longe de serem as únicas. Em um estudo publicado na revista científica Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer's Association nesta segunda-feira (2), pesquisadores descreveram outros 15 biomarcadores que, em testes com mais de 13 mil pessoas, foram capazes de prever o declínio cognitivo e o subsequente aumento do risco de demência até vinte anos antes do início dos sintomas da doença degenerativa.
A pesquisa investigou associações entre cerca de 5 mil proteínas plasmáticas (contidas no plasma sanguíneo) e o risco da patologia em um grupo de participantes britânicos cujas primeiras amostras de sangue foram coletadas mais de três décadas atrás. Depois, os resultados foram replicados em uma segunda coorte formada por norte-americanos.
No total, 13.657 adultos, a princípio assintomáticos para demência, tiveram seu desempenho cognitivo medido desde o fim da meia-idade até a velhice a partir de exames clínicos subsequentes, realizados em quatro intervalos de tempo: 2002-2004, 2007-2009, 2012-2013 e 2015-2016. Os pesquisadores conseguiram mapear 15 proteínas no plasma dos participantes associadas ao risco aumentado para a doença, ainda nos estágios iniciais da neurodegeneração.
De acordo com o estudo, essas proteínas estão relacionadas a um ou mais sistemas e processos biológicos, como em disfunções no sistema imunológico, na ruptura da barreira hematoencefálica (BBB, na sigla em inglês), em patologias vasculares e na resistência central à insulina. Enquanto algumas delas (SAP3, NPS-PLA2, IGFBP-7, MIC-1, TIMP-4, OPG, TREM2 e pro-BNP N-) já foram associadas à demência em estudos anteriores de caso-controle, é a primeira vez que sete delas (SVEP1, HE4, CDCP1, SIGLEC-7, MARCKSL1, CRDL1 e RNAS6) são ligadas à doença.
Até onde sabemos, esse é o maior estudo de todo o proteoma [conjunto de proteínas presentes em uma célula quando está sujeita a um estímulo] com resultados replicados em associações de longo prazo entre proteínas plasmáticas, declínio cognitivo e risco de demência até o momento”, escreveram os pesquisadores no estudo. “Nosso plano de pesquisa leva explicitamente em consideração a longa fase pré-clínica da demência, quando ela ainda pode ser evitada.”
Próximos passos
Segundo o documento, seis das 15 proteínas mapeadas podem ser modificadas com medicamentos atualmente disponíveis no mercado farmacêutico, mas que não foram originalmente criados para o tratamento da demência. Por isso, os pesquisadores consideram o uso desses remédios na futura prevenção ou tratamento da demência, mas ressaltam que eles ainda precisam ser estudados.
“Essas descobertas fornecem novos caminhos para estudos adicionais para examinar se as drogas direcionadas a essas proteínas podem prevenir ou atrasar o desenvolvimento da demência”, avalia Joni Lindbohm, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Helsinkin, na Finlândia, em comunicado.
Segundo Lindbohm, o próximo passo da equipe será examinar se as proteínas identificadas têm um associação causal com a demência e se são passíveis de modificação e drenagem. As duas etapas serão fundamentais para que o grupo se aproxime do objetivo final dos estudos, que é encontrar novos alvos de drogas para a prevenção da doença.
Fonte: Revista Galileu